quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Malangatana

O Pintor Malangatana Valente Nygwenya, falecido recentemente, é um dos maiores nomes da cultura moçambicana, tendo exposto os seus trabalhos em países como Portugal, Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Brasil, Angola, Cuba, Estados Unidos, Índia, entre outros.

Transcreve-se, de seguida, alguns excertos de um artigo publicado no quinzenário  Jornal de Letras, Artes e Ideias.  "A minha mãe não sabia ler nem escrever, e o meu avô também não, mas os contos tradicionais que ouvi por volta dos quatros anos  serviam para transmitir valores. Muitos deles tinham um fundo moral", lembrava  ainda Malangata. "A minha primeira universidade foi a minha mãe", afirmava então com emoção. Analfabeta, tornou-se doente mental a partir de 1947. Ainda ssim, gritava comigo, insistindo  sempre para que fosse para a escola. Um dia, quando vinha de casa de familiares, encontrou um livro perdido embrulhou-o cuidadosamente numa capulana. Transportou-o como um tesouro.

Malangatana foi pastor de gado e aprendiz de nyamussom (curandeiro), segui o apelo maternal e frequentou as escolas das missões católicas e protestantes. Começou a desenhar quando era criado de meninos: "Quando tomava conta de crianças, procurava desenhar no chão, desviando-lhes a atenção para que não fossem para a estrada. Também desenhava na praia, quando ia com os meus patrões. Este foi o rastilho do que fiz a seguir". O momento decisivo deu-se em 1961, quando foi trabalhar para a casa do arquitecto português Pancho Miranda Guedes. Este permitir-lhe-ia instalar um ateliê na garagem da sua casa e proporcionou-lhe meios para estudar. Anos depois, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, Malangatana veio para Lisboa, onde estudou gravura com João Hogan e cerâmica com Querubim Lapa.

De regresso a Moçambique, fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura, escreveu poesia, compôs música e animador cultural (fundou na Matalana um centro cultural destinado à educação pela arte) e foi deputado da Frelino entre 19990 e 1994. Foi um dos criadores do Museu  Nacional de Arte de Moçambique e nomeado pela UNESCO, Artista pela Paz. 

Em 2010, recebeu o doutoramento honoris causa da Universidade de Évora e foi feito Comendador das Artes e das Letras pelo Governo Francês.

Fonte: Fornal de Letras, Artes e Ideias.  Ano XXX. Número 1051 (de 12 a 25 dee Janiero de 2011). P.4.

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